Testemunhos

A busca da felicidade, que todos nós almejamos, pode ter rumos que, por vezes, nos soam a impossível, contudo são simplesmente o caminho de um verdadeiro discernimento. Relembro o meu passado e detenho-me em cada memória. Concluo que o enredo da minha vida se assemelha a uma espécie de preparação para algo desafiante. Tal como uma criança que brinca, ora aos médicos, ora aos professores, e que, já no seu íntimo, idealiza um futuro que procura seriamente traduzir nas suas brincadeiras. É deste modo que vejo o meu caminho, desde a infância até à entrada no seminário menor. Uma procura que nada mais é do que tantas outras, mas uma procura onde surge uma pergunta diferente. “Porque não ser padre?”. 

Uma pergunta desafiante e que ganha ainda mais sentido com a minha entrada no seminário. Este, como lugar de preparação que me permite responder às grandes questões da vida, é o cenário para uma espécie de “jogo”, o jogo de discernir aquilo a que nos sentimos chamados. Ora, entre regras, desafios, dúvidas e fragilidades disputa-se o jogo do discernimento. E a pergunta permanece numa resposta que se vai dando ao longo dos dias, horas ou minutos. São pequenas escolhas, mas para um grande caminho.

Algo no “jogo” nos traz a certeza de que estamos a tomar o rumo certo. Apesar de exaustos pelas exigências, o coração vive alegre e confiante. Neste “jogo” vive-se intensamente cada momento, que nos firma na nossa intrepidez de sonhar sonhos maiores, talvez, quem sabe, os sonhos de Deus.

O meu nome é Sérgio Araújo, tenho 28 anos e sou natural de São Vicente de Oleiros, arciprestado de Guimarães e Vizela. Neste momento, estou no 6.º ano, no Seminário Conciliar.

Diz-nos o evangelho que Jesus «chamou à sua presença aqueles que entendeu e eles aproximaram-se.» (Mc 3,13): Jesus mostrou-me o Seu chamamento de diversas formas. Inicialmente, aceitei e aproximei-me. Depois, com o avançar da idade, não correspondi ao chamamento e posso ter-me afastado um pouco. No entanto, Jesus não cessa de nos chamar e chegou uma altura em que tive de pensar realmente no que Jesus me chamava a fazer.

Desde muito jovem, ingressei no grupo de acólitos da minha comunidade paroquial. A minha presença assídua nas eucaristias e a amizade, que ao longo dos tempos, foi crescendo entre mim e o meu pároco (Padre Manuel Oliveira) proporcionou que houvesse uma reflexão que eu sempre tentei esconder e muitas vezes oprimir.

No entanto, após terminar o 9.º ano pensei ingressar no seminário mas, como todos os meus amigos e colegas de turma iam prosseguir os estudos e eu não me queria separar deles, entrei no Ensino Secundário no Curso Profissional de Técnico de Ótica Ocular. No final do 12.º ano, com a alegria de entrar no mundo do trabalho e de ganhar um pouco de autonomia, fiz um estágio profissional de meio ano e recebi a proposta de trabalhar numa loja de ótica. Com todos estes acontecimentos em catadupa, nem me lembrei desta «ocasião da graça que o Senhor deposita» nas minhas mãos. Mesmo assim, Jesus não cessa de nos chamar, e algum tempo depois de estar a trabalhar, pela voz de um sacerdote amigo (Padre Juvenal Dinis), surgiu novamente a questão: Queres conhecer o Seminário?

Então, aí decidi ver como eram esses encontros de discernimento. Frequentei o Pré-seminário Adulto durante um ano e meio e depois tomei a decisão de entrar e de fazer esta caminhada, que não se faz sozinha, mas acompanhada pela oração e pelos colegas da comunidade. Com grande alegria, estou no sexto ano, como já o referi, e sinto a cada dia que passa que este é o chamamento que Deus me faz.

Nos tempos em que vivemos, é verdade que os jovens são os protagonistas das suas escolhas. No entanto, um apelo deve ser feito às famílias para não serem um obstáculo, mas uma ponte. Uma ponte sólida entre o discernimento dos jovens e o apoio incondicional da família. As famílias devem proporcionar os melhores apoios para aqueles que estão a dar os primeiros passos e a tomar as primeiras decisões, cheios de dúvidas e impregnados de inseguranças. Aos jovens simplesmente digo: Questionai-vos! Questionai-vos sobre o que realmente Deus vos chama a ser. Para terminar como São João Paulo II disse no início de Pontificado: «não, não tenhais medo! Antes procurai abrir, melhor escancarar as portas a Cristo.»

A maior beleza do amanhã é quando ele se transforma em hoje. Ora, se é importante sonhá-lo, não é menos fundamental vivê-lo.

É nesta certeza firme de querer viver este sonho que, diariamente, procuro com os meus colegas, não só sonhá-lo, mas sobretudo vivê-lo. O meu nome é Bruno Lopes, tenho 24 anos e tive a feliz sorte de nascer em Calendário, Vila Nova de Famalicão. Neste momento, estou no 6º ano no Seminário Conciliar.

Em 2009, com apenas 12 anos decidi iniciar este sonho e entrei para o seminário menor de Braga para o 7º ano. Porém, esta caminhada começou um pouco antes, com o convite do meu antigo pároco (P. Vítor) para ir conhecer o seminário. Mal sabia eu que este momento ia provocar uma grande volta a minha vida, pois essa visita mexeu comigo. Foi aí que percebi como Deus lança os seus convites e que devemos procurar responder a esse convite não desperdiçando nenhuma oportunidade.

Se os primeiros tempos foram difíceis, ao ter de deixar família, casa, escola e amigos para trás em busca de um sonho, que para muitos é incompreensível, hoje em cada dia que passa sinto uma plena felicidade em aqui estar, sim porque na realidade a vida num seminário expressa-se nas palavras família e felicidade que nos dão força para seguir o rumo certo.

No entanto, muitos de vocês estão a perguntar-se, mas Bruno o que leva um rapaz com 12 anos a entrar para o seminário? A resposta é simples, a mesma que leva qualquer outro jovem a fazer opções e a tomar decisões. Se tantos dos vossos filhos e netos procuram respostas para o futuro, eu não sou diferente. Neste sentido, tenho como meta para a minha vida o sacerdócio. Sendo que este é um caminho que se faz progressivamente e nunca sozinho, na certeza que “sozinho vou mais rápido, mas juntos vamos mais longe”.

Ao longo desta caminhada há 2 perguntas que carrego na minha bagagem: “O que Deus quer para a minha vida?” e “O que eu quero para a minha vida?”. E a elas procuro responder a cada passo que dou.

E foi sobre esta linha que fui regendo os meus passos, e se eu não tive medo de arriscar é este mesmo convite que lanço a ti jovem que ainda não deste espaço no teu coração a Deus para ele o encher até transbordar de amor. Esta palavra não é só para os jovens, é também para vocês pais e avós: não sejam mais um obstáculo a felicidade dos vossos filhos e netos, mas antes sejam alicerces firmes onde lhes seja possível através de vós eles construírem pontes rumo a felicidade.

Façam o favor de serem muito felizes. Obrigado.

É imensamente desafiante e fascinante saber que ao chamamento de Cristo esteja profundamente unido o sentimento de alegria. Penso que este um é dos modos mais interessantes de perceber a voz de Cristo na nossa vida, que nos chama a segui-lo. E é com este sentimento de alegria que procuro viver os meus dias.

Eu sou o Diogo Martins, tenho 25 anos, sou natural de Guimarães e estou no 6º ano no Seminário Conciliar de Braga. Se me pedissem para qualificar ou descrever o meu percurso vocacional com uma palavra, eu seguramente escolheria a alegria. De facto, um dos modos como concebo Deus é através da alegria, pois Ele é um Deus alegre. Assim, em todo o meu processo de discernimento, vou procurando que este sentimento esteja sempre presente e que me sirva de luz orientadora.

Se, nas páginas da minha vida, procurar aquelas que primeiramente foram escritas, aquelas de que tenho as primeiras recordações, aquelas em que está expresso o que guardo de quem comigo fazia e faz caminho, encontro nelas impressa um sentimento de imensa alegria. E este sentimento foi-se sempre manifestando até aos dias de hoje, mas, muito especialmente, no momento em que decidi entrar no seminário. Quando propus para a minha vida um caminho que passasse pelo seminário, escolhi fazer um percurso que certamente me traria muitos desafios, mas também dificuldades. Ainda assim, é, indubitavelmente, um caminho trilhado e percorrido tendo sempre em vista a felicidade.

Neste tempo de seminário, tempo de profundo e verdadeiro discernimento, conforta-me a ideia de saber que Deus chama a todos, e que ninguém fica fora deste chamamento. Ele chama a todos, mas a resposta a este chamamento e a decisão de O seguir, essa fica do nosso lado, pois depende apenas de nós. Deus chama não para um caminho de tristezas, amarguras ou abandono, mas para um caminho de busca de algo mais profundo, que se traduz precisamente nesta procura da felicidade e na procura de perceber o que Deus quer para a minha vida. Mas, como já referi, este caminho é constantemente preenchido por uma alegria consoladora.

E é com este espírito que vou percorrendo os meus dias. Procuro, diariamente, deixar que Deus me vá tocando, desafiando e moldando. Procuro que Ele me toque no desejo de O seguir e de O amar, amor este que se manifesta no amor aos irmãos. Procuro que Ele me desafie sempre a fazer algo novo e renovado, percebendo que a resposta ao seguimento não é algo se dê num dia e que permaneça ao longo de toda a nossa vida, pelo contrário, é uma resposta diária e constante. Procuro que Ele me molde o coração e o espírito, de modo a poder configurar-me, cada dia mais, com Ele.

Deste modo, neste caminho, tenho aprendido a admirar a beleza de caminhar com outros, a beleza de partilhar experiências e dificuldades, a beleza de trilhar as sendas da verdade e da esperança, a beleza de me colocar inteiro, tal como sou, diante de Deus e dos outros. Uma beleza que tem como pano de fundo a alegria de O seguir. «No dia da felicidade, sê alegre» (Ecl 7,14).