A arte de uma vida a ser discernida

O Pré-Seminário é um caminho essencial à descoberta do horizonte individual de cada adolescente, de cada jovem, de cada adulto que anseie pautar a sua vida pela vontade de Deus. Não obstante, é intrínseco que cada um se deixe descobrir e moldar neste ambiente de busca de respostas e de sentido, de contacto com realidades similares e de proximidade com a comunidade do Seminário. Só assim, nesta caminhada de enorme liberdade, o passo seguinte poderá ser conscientemente dado. 

O discernimento vocacional é iniciado, de uma forma mais profunda e séria, nestes encontros mensais, mas não culmina neles; este, é um processo em constante desenvolvimento e amadurecimento, na certeza de que poderá não ser perene o sentido do agora”. Dizem-nos os antepassados que “a pressa é inimiga da perfeição”, e, neste percurso onde nunca existirá este último adjetivo, é necessário manter a serenidade e a confiança de modo a evitar precipitações. 

Nesta proposta arquidiocesana, são abordadas diversas temáticas que visam proporcionar a cada pré-seminarista a devida reflexão, essa, que é lapidar na recolha de respostas, na formulação de questões e na fusão das vontades pessoais com a de Deus, de modo a existir fidelidade ao projeto divino. De entre a pluralidade temática, saliento o ênfase dado à atenuação do “medo”, um sentimento comum de quem caminha e quer continuar a trilhar caminhos porventura desconhecidos e decisivos. A confiança, em si e em Deus, torna-se a chave que permite avançar as barreiras criadas pelo anterior estado de espírito, indo ao encontro do pensamento de Georges Clemenceau, “só triunfam os que se atrevem a atrever-se”. 

Destarte, por tudo o evidenciado, findo com uma cogitação de Rabindranath Tagore: “não é possível atravessar o mar olhando apenas para a água”.

Autor: Simão Malheiro, Pré-Seminarista; Foto: D.R.

Uma Recoleção Diferente

O terceiro ano procurou a “sombra do Invisível” através do tema “À espera da luz inesperada”, uma Luz que nos poderá cegar, mas simultaneamente iluminará toda a nossa imagem, tornando visível as ruínas e os atributos únicos de cada pessoa. Segundo Nietzsche, “os pés também pensam”, assim, esta simples expressão orientou o nosso pensamento e ação para os membros inferiores, que nos podem levar até ao encontro da transcendência.

A nossa caminhada tem como meta a Luz, mas teve como pontos de “repouso” a sombra (proveniente dessa claridade e expressão das dúvidas, que surgem durante o nosso percurso), a decisão do caminho (recordando a origem deste caminhar) e por último, a importância do Espírito (como impulsionador da superação e da mudança).

O nosso caminho é concretizado por distintos estados de conservação sob diferentes vias. Se “Deus também passa pelos ladeiros”, nesses passos cuidados sentimos a confiança e o medo, mas para atravessar é preciso superar essas inseguranças. Noutros percursos, a paz de Nosso Senhor está connosco, tornando mais fácil e feliz a caminhada. O percurso é muito longo e, em cada etapa que superamos, reforçamos a nossa fé e a esperança no verdadeiro encontro com a Luz.

No decurso da caminhada, aparecem enigmas e obstáculos semelhantes a outros já superados ou apenas evitados. As novas obstruções diante de nós exigem um outro método, um método assente na verdade, justiça e confiança. O nosso passado, pode ser a nossa ruína, mas também nos pertence; com ele carregamos os benefícios e os problemas, e apenas o caminho pode mudar o futuro. Agora é tempo de cuidarmos de nós, ao ponto de nos fortalecermos, para que cresçamos robustos como um terebinto, que dará muito fruto. O seminário tem agora um terebinto! Será um sinal? Caminhemos confiantes com Deus!

Autor: João Miranda, 3º Ano; Fotos: D.R.

70 anos da Conferência Vicentina do Seminário Conciliar

Comemorar 70 anos é sempre uma oportunidade para relembrar pessoas e   acontecimentos marcantes, revisitando a sua história. Foi neste espírito que a Conferência Vicentina do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo comemorou 70 anos da sua fundação, propondo à comunidade, e não só, um programa com vista a assinalar o seu aniversário.

As comemorações iniciaram-se no dia 11 de março com uma oração que congregou todos os seminaristas, e na qual tivemos oportunidade de rezar por todos aqueles que são ajudados pelas conferências vicentinas, em especial por todos aqueles que são colocados, por vezes, à margem da sociedade e que sofrem por não terem uma casa onde habitar.

Já no dia seguinte, 12 de março, assistimos, em comunidade, ao filme “Parasitas”. Com a visualização deste filme, pudemos refletir acerca das desigualdades sociais, que, embora convivam muitas vezes bem de perto, se apresentam bem distantes em diferenças, não se compreendendo entre elas, levando a ações inconsequentes, no desespero pela rápida ascensão social, vista como solução para todos os problemas.

No dia 13 de março, tivemos o culminar das comemorações, com Eucaristia Solene e jantar comemorativo, nos quais se juntaram a nós, entre outros convidados, o Sr. Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, e o Bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira. A Eucaristia foi o momento privilegiado de agradecer a Deus por todo o trabalho realizado por esta conferência, bem como agradecer por todos aqueles que colocaram os seus dons a render em prol desta instituição, não esquecendo, nas nossas intenções, o 7.º aniversário de Pontificado do Papa Francisco e as vítimas da atual pandemia. Seguiu-se o jantar, no qual celebramos a alegria do serviço que prestamos através desta conferência, partilhando experiências, e confiantes na continuidade desse serviço em prol dos mais necessitados.

Aprender a Discernir

O encontro de espiritualidade do biénio com o Pe Bruno Nobre, que teve como tema “O Discernimento”, fundamentou-se na Liturgia da Palavra da quinta-feira após as cinzas, no nono capítulo da “Christus Vivit” e no quinto capítulo da “Gaudate et Exultate”.

A múltipla referência a este tema revela a sua extrema importância para os cristãos e para as suas comunidades. Todos estamos em discernimento a partir do momento em que nos colocamos questões como: “qual o caminho a seguir?”, ou “como sei o que Deus me está a pedir?”.

A origem do termo “discernir” vem de “separar”. Daí separar as ideias, os factos, os acontecimentos que constituem a nossa existência. É assim que, aprendendo a discernir, aprendemos a tomar boas decisões.

Nestes tempos, cada vez mais exigentes, o caminho para o sacerdócio e o anúncio do evangelho requerem um bom discernimento, seja pessoal ou comunitário. Tal só se consegue através da escuta, leitura, oração e meditação, já que é no silêncio que a voz de Deus se faz ouvir.

Discernir com Esperança: Triénio

No passado dia 22 de fevereiro, como já vem sendo tradição, os alunos do 3.º, 4.º e 6.º anos do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo dirigiram-se ao arciprestado de Arcos de Valdevez, na diocese de Viana do Castelo, para discernir com Esperança, nas paisagens verdejantes da paróquia de Sistelo.

Tudo começou, como tem sido habitual, com a Eucaristia, no fim da qual partimos em direção ao parque de merendas junto à capela de N. Sra. dos Aflitos, em Sistelo, local onde decorreu o almoço.

Terminado o almoço, houve um momento de discernir na esperança, com as palavras do Reitor do Seminário, de forma a concretizar uma formação sacerdotal não dotada de mínimos, mas sim de sacerdotes entregues à missão num caminho de encontro com Cristo. Como afirma o Papa Francisco, “o cristão não se sente nunca abandonado, pois Jesus nos assegura não somente de nos esperar ao final da nossa longa viagem, mas de nos acompanhar em cada um de nossos dias”.

Terminado o momento de reflexão, a comunidade partiu num trilho desenhado pelas belas e verdejantes encostas de Sistelo.

Findo este dia, regressamos ao local de partida, com a certeza de que os cristãos podem e devem caminhar por toda a parte, atravessando um mundo ferido e indo ao encontro dos que não estão bem. Haverá sempre alguém à espera e que precisa de ser encontrado!